Leo Saldanha fez um artigo no seu blog com a seguinte reflexão: "O que aconteceu com a fotografia ?". Acompanhando a cena desde 2011, com atuação em tempo integral desde 2015, observo progressos e retrocessos, reflexos de uma sociedade em "guerra por percepções", como diria Clóvis de Barros.

Muita gente acha que o mundo é grande e a percepção é um recorte. E a gente vai recortando o mundo a cada segundo. E a cada segundo o mundo se apresenta para nos em uma janela, em uma certa imagem. E é claro que, como ninguém está no lugar que nós estamos o mundo acaba ficando um para um porque num certo instante ninguém vê a mesma coisa que o outro. E até quando conversamos assim, o mundo para você sou eu e o mundo para mim é você, nenhuma coincidência. E então, a única pergunta é : Como ter certeza que estamos todos no mesmo mundo se cada um vê uma coisa, se cada um sente uma coisa e se cada um percebe um mundo diferente?

Clóvis de Barros, filósofo

Avanços Tecnológicos e Dilemas da "Uberização"

A tecnologia proporcionou câmeras e softwares incríveis, com a IA como aliada. A IA ajuda a ganhar tempo, seja com apps para ajudar no marketing do negócio , seja com apps para escolher e tratar as fotos de maneira mais rápida e eficaz. Plataformas online de venda de fotos democratizam o acesso, mas também reforçam a ideia de que "basta apertar o botão", negligenciando a formação técnica de um profissional.

Mulheres em Ascensão, mas o Machismo Persiste

Apesar da cultura machista, as mulheres conquistam espaço, liderando o mercado de congressos e workshops. Essa mudança é crucial para um futuro mais igualitário na fotografia.

Retratos em Alta e a Reinvenção do Casamento

O mercado de retratos floresce, com fotógrafos de família aprimorando técnicas e negócios. A fotografia de casamento se reinventa, buscando novos nichos e expandindo horizontes.

Retrocessos: Ilusões de Luxo e Mentores Vazios

Ex-fotógrafos e agora novos influenciadores vendem ilusões de dinheiro fácil, ofuscando a importância do estudo e da técnica. Mentores prometem o paraíso, mas entregam pouco, alimentando um ciclo de dívidas e frustrações.

Congressos Desatualizados e a Busca por Conteúdo Relevante

A fotografia vive uma era de transformações. Congressos e feiras para mais de mil pessoas não existem mais. Marcas como Canon, Sony e Nikon, outrora gigantes do setor, parecem ter desviado o olhar da fotografia, abrindo espaço para outras marcas do mercado.

Enquanto alguns insistem na propaganda enganosa, buscando o título de "maior do Brasil" – talvez reflexo de uma cultura que supervaloriza o tamanho –, o público anseia por algo diferente.

Cansados de "celebridades" que priorizam autopromoção em vez de conteúdo relevante, os participantes buscam conhecimento genuíno e conexões reais.

É hora dos organizadores de congressos se libertarem da obsessão por números de seguidores e darem voz a palestrantes que inspiram e compartilham conhecimento de forma verdadeira.

A oportunidade está nos eventos menores, que valorizam a qualidade, a comunidade e a paixão pela fotografia.

Que essa nova era seja marcada pela busca por autenticidade, pela troca de experiências e pela construção de um futuro mais colaborativo e inspirador.

Cultura do Silêncio e a estratégia do choque

Muitos fotógrafos, mesmo discordando das práticas e discursos polêmicos, optam por se calar, temendo a desaprovação desses personagens e possíveis represálias. Esse silêncio cúmplice perpetua a cultura da agressividade e da polêmica, criando um ciclo vicioso que prejudica a comunidade fotográfica como um todo.

A agressividade e a polêmica são utilizadas como ferramentas para gerar engajamento e visibilidade nas redes sociais. Essa busca por atenção a qualquer custo se torna norma, incentivando comportamentos tóxicos e prejudicando o desenvolvimento de um ambiente saudável e colaborativo na fotografia.

É preciso romper esse ciclo e ter coragem de se posicionar contra a agressividade e a polêmica vazia. A busca por validação não pode justificar a perpetuação de comportamentos nocivos. O futuro da fotografia depende da construção de um ambiente respeitoso e colaborativo, onde a autenticidade e a paixão pela arte sejam os pilares do sucesso.

A Era dos Personagens: Engajamento a Qualquer Preço

Inspirados em figuras polêmicas, muitos fotógrafos constroem personagens superficiais em busca de engajamento e sucesso nas redes sociais. A autenticidade é deixada de lado em favor de personas fabricadas, que geram polêmica e atraem atenção, mas que se distanciam da essência da arte fotográfica.

Vemos fotógrafos que antes se destacavam por seus ensaios de retratos se transformarem em "gurus" de arquétipos, com charutos na mão e discursos vazios. Outros, bem-sucedidos na fotografia de casamento e retratos, abandonam suas raízes para se tornarem pastores, buscando uma nova persona que gere identificação com um público específico apelando para a religião.

Essa busca por personagens e validação externa revela uma profunda crise de identidade e uma falta de conexão com a verdadeira paixão pela fotografia. A arte se torna um meio para alcançar outros fins, e a essência da criação se perde em meio a filtros, poses e discursos fabricados.

É preciso questionar essa cultura de superficialidade e resgatar a autenticidade na fotografia. A verdadeira conexão com o público se dá através da paixão pela arte, da busca por conhecimento e da expressão genuína da individualidade. Que a fotografia volte a ser um reflexo da alma, e não um palco para personagens vazios em busca de aprovação.

O Futuro da Fotografia: um Chamado à Ação

É hora de questionar, de romper o silêncio e de construir um futuro mais ético e consciente na fotografia. Precisamos valorizar o conhecimento, a técnica e o respeito, em vez de alimentar ilusões e o caos.

Que a fotografia seja um reflexo não da guerra por percepções, mas da busca por autenticidade e significado.